A melhor distro de Linux para quem é novo ao Linux é o Ubuntu. Em seguida, teríamos Linux Mint. Honestamente não posso recomendar qualquer outra distribuição Linux, pois há grandes problemas com a maioria delas. Vamos entender quais são esses problemas e por que Ubuntu e Linux Mint são, infelizmente, as únicas escolhas sensatas.
Não Escolha Distro por Screenshot!
Primeiro, veja que o papel de uma distro é apenas distribuir software. A distro vem com um número de programas instalados por padrão, e um número de configurações por padrão. Todo screenshot que você vê do Linux não são screenshots do Linux, nem de uma especifica distribuição, mas sim de certos programa instalados na distribuição. Em particular, seriam screenshots do Ambiente de Desktop (Desktop Environment, abreviado "DE"). Por exemplo, o Linux Mint vem com a DE Cinnamon instalado por padrão.
A barra de tarefas, a área de trabalho, etc., não são parte do Linux Mint, nem do Linux, são parte do Cinnamon.
Em alguns screenshots "do Linux" você vê uma barra na parte superior da tela em vez da parte inferior. Esse estilo é geralmente derivado de uma DE chamada de GNOME.
É possível instalar qualquer uma dessas DEs em qualquer distro. De fato, você pode instalar todas elas em um único distro. Eu fiz isso com o Fedora: instalei Plasma, GNOME, XFCE, Cinnamon, e LXQt no mesmo distro. O Fedora parou de funcionar umas semanas depois. Não sei se uma coisa tem haver com a outra. Decidi mudar de distro depois disso.
Enfim, não é uma boa ideia escolher uma distro pelo screenshot, já que o screenshot não lhe diz nada sobre a distro, apenas sobre algum programa que está instalado nela, e poderia ser instalado em qualquer outra distro.
De fato, algumas distros possuem múltiplas versões, chamadas de "sabores" (flavors), que vêm com DEs diferentes. Por exemplo, Kubuntu vem com KDE instalado, Xubuntu vem com XFCE.
Distro fornece software
Uma importante parte de cada distro é a configuração padrão dos repositórios de software e do gerenciador de pacotes. Isso é o que controla de onde vem as atualizações do sistema.
Em sistemas Linux, a maioria dos programas são instalados baixando-os de um repositório. Por exemplo, para instalar o Krita no Linux, basta abrir um aplicativo chamado "centro de software" em DEs baseados em GNOME, ou Discover no KDE, procurar por Krita, clicar instalar, e, automaticamente, o aplicativo será instalado sem precisar fazer mais nada.
Isso também pode ser feito pela linha de comando em um terminal, que mais claramente revela as diferenças entre as distribuições.
Por exemplo, em sistemas baseados da distribuição Debian, tais como Ubuntu e Linux Mint, o gerenciador de pacotes padrão é o Aptitude, que seria o comando apt
. Digitando apt install krita
instala Krita no sistema. Em alguns casos, um programa não existe no repositório, mas pode ser instalado baixando um arquivo que termina com a extensão de arquivo .deb
.
No Fedora, o gerenciado era chamado de yum
, mudou para "Dandified Yum," seu comando sendo dnf
. Digitando dnf install krita
instala o Krita no sistema. O arquivo que seria baixado se o Krita não existisse nos repositório Fedora teria a extensão .rpm
.
Há algumas coisas importantes que podemos compreender com isso.
Primeiro, embora qualquer pessoa possa criar uma distro, há custos em manter a distro funcionando. A maioria das distros pode ser baixada de graça, o que significa que alguém precisa pagar pelos custos do servidor sem receber dinheiro algum por isso.
No caso do Fedora, a empresa por trás do Fedora, Red Hat, ganha dinheiro oferecendo suporte técnico para empresas que usam as distros Fedora e RHEL (Red Hat Enterprise Linux). No caso do Ubuntu, a ideia é a mesma, porém a empresa que oferece suporte é a Canonical.
Várias distros sobrevivem de doações. Por referência, Arch Linux teve despesas totalizando $17,046 dólares em 2023, e recebeu $37,084 dólares em doações no mesmo período. Debian, $208,689 em despesas, $64,217 em doações1.
Algumas distros usufruem do fato de serem baseadas em outras distros. Por exemplo, Linux Mint é baseado no Ubuntu, que por vez é baseado no Debian. Isso significa que bugs corrigidos em uma dessas distros podem propagar mais facilmente para as outras distros.
A velocidade com que software é atualizado e testado depende da distro. Fedora é atualizado com maior frequência, o que significa que bugs existentes são corrigidos mais rapidamente, e bugs não-existentes são criados mais rapidamente. Debian, por outro lado, atualiza de maneira muito mais devagar. Se estiver funcionando, continuará funcionando por um longo tempo, e se não estiver, ficará com defeito por um longo tempo. Porém, isso não significa que o Ubuntu, mesmo sendo baseado no Debian, atualiza com essa mesma vagareza.
Linux não é Popular
O número de pessoas que usam Linux é muito pequeno comparado com o Windows. Linux é popular apenas como sistema usado em servidores. Quando se trata de sistema para PC, sistema desktop, a estimativa estaria em torno de 1 a 2 por cento do mercado. Porém, essa estimativa pode confundir devido ao número de distros.
Suponha que você está usando Linux e você quer fazer alguma coisa com seu computador. Você procura por um tutorial na Internet. Primeiro que se você não especificar "linux" os resultados serão todos sobre Windows. Se você especificar "linux," os resultados estarão divididos de maneira por distro. Você verá alguns resultados de fóruns de uma distro, de wikis de outra distro, etc. Não necessariamente que se aplicam a distro que você escolheu.
Como vimos acima, em uma distro um comando é apt
, em outra o comando é dnf
.
Suponha que você esteja escrevendo um tutorial você mesmo. Se você usa Fedora, sempre usou Fedora, e nunca usou Debian ou Ubuntu, você não irá escrever "se você usa Debian, o comando é apt
." Isso por que seria necessário testar todos os comandos do tutorial no Debian para ter certeza que funciona. No Windows isso não existe. Até alguns tutoriais feitos para Windows XP ainda si aplicam para Windows 11 e irão se aplicar para Windows futuros também provavelmente para toda eternidade.
Algumas diferenças entres distros nem são tão óbvias. Por exemplo, no Fedora, algumas coisas, aliás, muitas coisas não funcionam ou param de funcionar com cada atualização devido ao sistema de segurança SELinux que vem instalado no Fedora. Recentemente, Chrome e todos os aplicativos baseados no Electron fazem um aviso aparecer na tela. Outro exemplo: no Fedora, um usuário não pode ler um arquivo dentro de um diretório através de um symlink se não tiver acesso a hierarquia inteira do destino, e.g. não é possível linkar /var/www/public
com /home/eu/site
, pois o usuário apache
que tem acesso a /var/www/public
não tem acesso a /home/eu/
. Isso funciona em outros sistemas, não funciona no Fedora. Provavelmente existe algo que funciona no Fedora mas não funciona em outros sistemas.
Enfim, essas pequenas diferenças de uma distro para outra, essa fragmentação, vão tornar a sua experiência com o Linux muito pior do que ela poderia ser. Vai ser só dor de cabeça vendo gente falar que coisas funcionam quando não funciona para você.
Se você não souber Inglês, a situação piora muito, já que não teria acesso a grande parte da informação que poderia lhe ajudar com o Linux encontrado em páginas em Inglês.
Só existe um jeito de lidar com essa fragmentação: escolher o maior fragmento. A pizza Linux está dividida em 8 pedaços, mas são pedaços de tamanhos diferentes. Pegue o pedaço maior.
No caso, Ubuntu seria a distro mais popular(Qual é a Distro Linux Mais Popular?). Use Ubuntu, então, pois aí você não terá problemas com "o Linux," que pode ser qualquer distro, mas problemas com "o Ubuntu," que seriam mais específicos.
Outros Sistemas Compatíveis
Como o Linux Mint e o Pop!_OS são baseados no Ubuntu, que por sua vez é baseado no Debian, esses três sistemas possuem várias similaridades, e é possível que tutorials e soluções que se aplicam a um sistema também se aplicam a outros sistemas da mesma família Debian.
Se você não gosta do Ubuntu por algum motivo (e há motivos), sugiro usar um outro distro da família Debian. Pessoalmente estou usando o Mint agora. O Cinnamon não é muito bom, e se eu soubesse antes de instalar teria baixado o sabor XFCE, mas o sistema em si parece funcionar muito bem, sem os problemas que eu tinha encontrada no Ubuntu quando usei ele.
Imagine que você seja um desenvolvedor de software. Você criou um aplicativo e testou ele em um Linux. Provavelmente, você testou ele no Debian. É bem possível que você não testou em todas as distros. Logo, usar uma distro mais popular tende a garantir uma maior estabilidade de software.
Eu gostaria que isso não fosse o caso, mas infelizmente é. Por mais que eu goste da ideia de usar distros menores e menos conhecidas, no final das contas quanto ocorre algum problema, você precisa de alguém que saiba como concertá-lo, e é muito mais frustrante quando ninguém usa o mesmo sistema que você está usando. Aí você vai ter que fazer todo o trabalho por si próprio, sem ajuda de ninguém, ou com muito pouca ajuda.
Referências
- Em Inglês: https://www.spi-inc.org/treasurer/reports/202312/ (acessado 2024-08-21) ↩︎
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